O peixe não tem olhos (PARTE 4)

3.6.11 Castanha 1 Comentarios


(Advertência ao leitor: Esse conto está invadindo um blog de crônicas)

Iugo não conseguiu dormir naquela noite e isto em tal época do ano não era boa coisa. Como foi dito as noites duravam pouco, não mais que quatro horas, e se não se conseguia dormir neste curto tempo não se dormia mais em tempo nenhum porque nas vinte horas por dia em que o sol pairava sobre a cabeça dos cidadãos, o calor era tão sufocante que tirar o menor cochilo era impossível. Em linhas anteriores expus, também, minha opinião sobre Iugo: O acho um idiota. Por quê? Pode se perguntar o amigo leitor. Vamos lá: Iugo sentia-se muito superior aos outros ao seu redor. Tudo bem, justiça seja feita, ele era uma pessoa curioso, bem informada, acompanhava noticiários, era honesto e bom funcionário, mas no mais não era diferente de tantos e tantos incontáveis outros. Mas, ele não via isso, odiava os demais e isso o cegava e quando algumas coisas aconteciam como a situação da venda da ‘idéia da certeza’ para o cliente idoso e intolerante, ele exasperava. Iugo nunca teve muitas chances na vida, mas nunca teve menos chances que a maioria dos demais. Ele não enxergava isso e muitas vezes se lamentava. Como não tinha amigos com quem conversar, dividia suas mágoas com o travesseiro sempre antes de dormir (Está aqui à causa da falta de sono que rasgava sua noite) e de uns tempos pra cá tinha o peixe, o peixe que não tem olhos. Quando estava em casa limando-a ou cozinhando ele conversava com o peixe “Lembra daquele conhecido meu que trabalha na loja de ideias inovadoras, aquele que ganhou uma promoção no mês passado? Eu encontrei com ele hoje e ele me disse que o chefe está gostando muito do trabalho dele, mas tenho certeza que ele só subiu de cargo porque puxa o saco do gerente local se não fosse por isso ele não teria mais chances que eu; às vezes eu penso que todo mundo tem mais chances que eu”. O que Iugo se esquecia de contar pro peixe (E acredite amigo leitor, não era de propósito, era por cegueira) é que o dito colega empenhara-se ao máximo na função que ocupara. Depois de um tempo continuava “Lembra que eu falei do meu gerente lá do emprego? É um otário! Pensa que sabe de tudo, chega pra dizer o que tem que ser feito assim e assado... Às vezes eu acho que todos têm mais espaço pra falar que eu.”. O que Iugo se esquecia de dizer para o peixe é que esse é o papel do gerente: Dar ordens (Mas, isso eu acho que o peixe já sabia). E mesmo assim havia espaço de sobra pra os diálogos, espaços que Iugo não ocupava por achar aquilo pequeno pra ele: “Eu é que não compartilho minhas opiniões com esses ‘menores’”, dizia de si para si durante as reuniões da equipe. Depois voltava a seguir o diálogo com o peixe. No final do dia, tendo concluído tudo, parava em frente ao aquário e falava baixinho, pois tinha medo que o peixe escutasse “São tão cegos quanto você e a única diferença é que em vez de órbitas vazias eles têm cabeças vazias”. Às vezes me pergunto se o peixe não ouvia aquilo e pensava: você não é tão diferente dos outros.

Diário pessoal – Reflexão do dia:
A visão: pode ser biologia (Usando literalmente os olhos) ou simbólica (A ideia que construímos de tudo que vemos enquanto estamos vendo). A maioria das pessoas não tem visão. Sou assim? Provavelmente não, se fosse eu saberia. Será? Não sou. Tenho certeza.
Iugo Um dia assim /do mês de sempre / do ano que já conhecemos.
(Continua...)

Castanha 03 / 05 / 2011

Um comentário:

  1. ESTOU TÃO ANCIOSA PELO DESFEIXO DESSE CONTO. TERMINA LOGO VAI

    ResponderExcluir